quinta-feira, 22 de março de 2012

Esperança

Corpo estirado ao chão
Fraqueza
Seus pés são esperança
Agarro
Um dia alcançarei suas mãos

Porta

Porta abre
Pés oscilam
Coração vai
Mente fica
Porta fecha
Separados ficam partidos
Como ser inteira outra vez?

Partido

Não partiste meu coração,
Levaste inteiro…
Inteiro amor,
Saudades,
Você…
deixaste partido o beijo,
O abraço
E vazio ficaram as mãos…
O banco na praça…
Meu lado…

quinta-feira, 17 de março de 2011

Diario de onibus...

Sempre tive uma idéia fixa na cabeça de escrever um diário de ônibus, mas não desses queridos diários que precisam ouvir lamurias de desilusões amorosas, brigas ou sorte, mas um diário que pudesse ouvir historias estranhamente cotidianas. Se eu fosse um ex-combatente compararia o ônibus a um campo de batalha, se eu fosse um esportista diria ser este uma aventura, como sou apenas uma assídua e por certo angulo admiradora o comparo a um objeto grande de uso intensamente coletivo e que serve como um atraso natural para compromissos importantes. Sim apesar da descrição levemente assustadora, eu ainda digo que sou admiradora!

A ventura dos usuários começa assim que o primeiro pe sai dos limites de casa. Na rua, pontos de ônibus, sim, como poderia me esquecer destes! O ponto de ônibus merece uma descrição especial, ponto de ônibus e sinônimo de esperar em pe ou sentado durante uma eternidade pelo objeto de uso intensamente coletivo. É um lugar para se conhecer novas pessoas, fazer amizades relâmpagos, funciona também como um divã, o bom é que se economiza um dinheirão com terapeutas, se tudo que você precisa é desabafar seus problemas, corra para um ponto de ônibus e pegue o primeiro pobre coitado que aparecer, comece assim:

-Parece que vai chover…você não vai acreditar, meu marido me abandonou pra ficar com a vizinha, ela é muito gorda, cheia de celulite, não acredito que ele me trocou por aquele fumo - fumo palavra usada para designar uma pessoa desprovida de beleza.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

SAUDADE

Depois de anos, cheguei à conclusão de que saudade é também um esquecimento. É esquecer um pedaço de si. Sentimos saudades daquilo que algum dia fez parte de nossas vidas. Se alguma coisa algum dia fez parte de nossas vidas, logo aquilo também é parte da gente. Neste ponto algumas pessoas podem discordar dizendo que sentimos saudades das lembranças, memórias, seja lá o que for, e que estas não são coisas palpáveis, e não há como faltar um pedaço de algo imaterial. Tudo bem eu compreendo, afinal de contas já ouviu alguém dizer que o amor está faltando um pedaço? Ou ama ou não ama. Não se perde um pedaço do amor. Não estou dizendo da pessoa amada, mas do próprio sentimento. A pessoa a quem amamos sempre pode faltar um pedaço, afinal de contas nunca se sabe quando faltará um dedo, unha, orelha...

Apesar de concordar que as lembranças e os sentimentos são imateriais, estes por sua vez estão sempre associadas há algo material, seja lugar, pessoa, objeto. Veja um exemplo: Joana amava Andre. André é material. Mesmo que o sentimento que Joana nutria por Andre fosse platônico, ele está ligado a algo material. Logo se pode afirmar que a saudade que Joana sente da época que amou André ficou esquecida no tempo, e, portanto ela não é uma pessoa inteira. Partindo desse pressuposto ninguém é inteiro. Somos todos faltantes...

Outra questão sobre a saudade, e que todos podem concordar sem mais delongas, é que esta é um sentimento cíclico. Quando estamos longe de casa sentimos saudades de lá e na tentativa de acabar com ela voltamos, porém sentimos saudades do lugar que deixamos pela última vez. Logo se queremos deixar de sentir saudades de algum lugar ou alguém, ficaremos constantemente dando voltas sempre chegando ao ponto de partida, sem suprir nossas expectativas.

Alguns ainda podem argumentar que saudade não pode ser um esquecimento, afinal de contas não há como lembrar algo esquecido. Eu me pergunto: como podemos esquecer alguma coisa se não lembramos que esquecemos?

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ideia

É incrível o poder da ideia sobre nossa mente. As vezes atormentam a tal ponto, que mau nos deixam respirar. Tudo bem exageros a parte, e que não consigo evitar o vicio de tentar florear as palavras com outras que as tornam um tanto mais dramáticas! Isso e culpa das idéias. As vezes penso que poderíamos ser muito mais felizes se não tivéssemos ideia nenhuma. E bem possível que dormiríamos mais tranquilamente, e todos os dias saberíamos a cotação do dólar.

Idéia, idéia.....pra que precisamos dela? Ficam por aqui atormentando, insistindo em manter minhas mãos num movimento frenético, escrevendo palavras que muitos não se darão ao trabalho de ler.

As minhas idéias, por exemplo, vem sofrendo uma obsessão em encontrar um poeta. O dia que encontrar um poeta... me caso! Mas somente o poeta que preencher tais requisitos:

“procuro um poeta...cuja poesia ultrapasse o sentido das palavras...
Sempre gostei de musica...
será que a poesia de meu poeta se transformou em melodia?
neste caso, preciso ouvir bem a musica...
não ouço musica nenhuma!
se eu fiquei surda?como deixarei que meus pés sonhem o ritmo tão desejado
e me levem ao encontro...daquele... daquele...
cuja poesia, musica, ritmo, ultrapasse o sentido do verbo... amar?"

Se ao menos todos tivessem ideias fosse tão brilhantes como Rilke, Drummond, Clarice, ou Cecília, o mundo seria mais poético, e poderíamos viver das palavras. Neste caso não seria viver das ideias. Mas de ideias que viraram palavras. Ninguém vive de ideia, você já viu alguém almoçar ou jantar ideias? Imagina: -Garçom por favor, me traga uma ideia ao ponto, e para beber uma ideia de laranja, ou talvez assim: “Uma ideia hegeliana ao molho pardo, e para sobremesa uma ideia Shakespeariana”. Ah se isso fosse possível, ninguém morreria de fome!

As ideias agora já estão mais calmas, vou conseguir dormir logo, por isso vou me despedir, até a próxima ideia!

sábado, 7 de novembro de 2009

Um certo dia

Quero contar uma história que aconteceu comigo, mas já é a terceira ou quarta vez que tento iniciar um parágrafo. Pensei começar recorrendo a um artifício literário muito comum, que é exaltando a beleza do dia, no entanto não existe um dia que seja belo a todos, como também não existe um dia ruim para todos. Um mesmo dia pode ser de nascimento para uns e morte para outros. Então os escritores que me perdoem, mas não deveriam começar suas histórias com um “belo dia”, mas sim “Certo dia, que era belo para fulano de tal”.

Queria que cada palavra encontrasse um lugar perfeito nesta minha narrativa, mas talvez não seja possível uma vez que meus próprios sentimentos estão sem lugar. Contarei os fatos na ordem que me parecerem mais interessantes o que não torna minha história menos verídica, apenas mais emocionante. Não quero recorrer aos sensacionalismos dos jornais que pingam tragédia ou as lágrimas dos romances baratos que até mesmo molham nossas mãos. Quero apenas estar na medida certa nem de menos ou demais.

É estranho como podemos acordar, e ter nossas vidas completamente transformadas. Certo dia nem belo ou ruim, acordei mais cedo para estudar sentindo uma leve pressão no meu tronco. Apesar de não parecer nada grave optei por ir ao médico. Quase me convenci de que não precisamos mais ir ao médico, pois atualmente nossas doenças são na maioria dos casos de origem viral, psicológica ou desencadeada por um estresse. No meu caso foi desencadeado por estresse, este por sua vez foi tanto que uma semana depois estava internada. Opa! Perai no meu laudo de internação não constava estresse.

A primeira médica que me consultou disse que meu problema era estresse e me receitou um antiinflamatório, será que ela pensou que meu problema era estresse inflamado? Após uma leve piora pensei que a pobre médica poderia ter se enganado, e decidi consulta outro médico que me mandou comer bananas para eliminar a hipótese de ser falta de potássio. Finalmente na terceira consulta decidiram fazer uns exames de sangue e chamar um neurologista, este por sua vez me mandou fazer uma ressonância magnética.

Novela, novela! Na semana subseqüente foi uma briga para que o convênio liberasse a tal ressonância. Eles decidiram baseados em critérios que uma pessoa que sente perder os movimentos da perna não consegue compreender, de que tal ressonância era desnecessária. Hoje me ocorre que esta incompreensão pode ser devido a alguma perda de movimento do cérebro não diagnosticado pelos médicos na época. Por ser uma pessoa incompreendida, eles decidiram marcar uma consulta com uma médica perita que liberou a tal ressonância.

Já com os exames em mãos e uma quarta consulta, fui informada que seria necessário me internar para a realização de mais exames e um em especial. Nunca me esquecerei do médico dizendo que enfiar uma agulha na sua coluna e retirar seu liquido encefarrolequiano causa apenas um leve incômodo. Poupe-me doutor, o senhor já precisou de uma punção antes? Este exame me rendeu mais de uma semana com fortes dores de cabeça.

Após uma semana de tratamento e mais exames, saí com o diagnóstico de que eu tinha algum tipo de doença desmielinizante do sistema nervoso central e que só poderíamos confirmar o diagnóstico após algum novo surto da doença e mais exames. Que isso? Doença desmielinizante? Pensei que tudo isso era estresse.

Finalmente após meses de incerteza fui diagnóstica como portadora de esclerose múltipla. Algumas pessoas ao ouvirem o nome desta doença fazem analogia a loucura ou doença de velho. É uma doença realmente incerta e nos causa certa insegurança, mas uma coisa eu digo a todos os portadores de EM, já que somos todos assim meio esclerosados, que ao menos sejamos bem humorados!